sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Mulher psicologicamente espancada



Mulher psicologicamente espancada

Para comprovar os espancamentos físicos aos quais é submetida, basta à mulher exibir as lesões do corpo. Mas, existem outras lesões cruéis, que não deixam marcas visíveis. Nada pode comprovar, embora não consiga mais sorrir. São ofensas, olhares desdenhosos, desprezo silencioso, palavrões ofensivos, solidão, desculpas mentirosas...

Como provar que todas as palavras emitidas pelo agressor são truculências? Cada insulto, cada frase maldosa, cada som do silêncio infligido é um golpe bruto e certeiro. A alma sucumbe a uma dor que, pouco a pouco, destrói sua razão de ser. Mas, a mulher sorri. Disfarça. Mente. Por quê? Porque ninguém acredita em suas palavras.

As omissões são tantas, que se convence de que exagera, de que imagina coisas, de que possui todos os motivos para ser feliz, mas não sabe valorizar o que tem. Convence-se de que aquilo ocorre amiúde em outros lares e/ou lugares e que o tempo mudará a situação. Desta forma, cala-se submissa frente a violência. Emite apenas gritos silenciosos e lágrimas secas, que encobrem a dor interna. Sofre. Quando consegue chorar o faz escondido, pois é tudo o que lhe resta. Lágrimas de humilhação, frustração e desespero. Seus soluços, quando altos, continuam ignorados. Ninguém deseja se envolver...
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Um dia, porém, como num milagre, a mulher ergue a cabeça. Alguém a ouve. Agarra-se com força à corda de salvação e consegue murmurar: “Tenho o direito de não ser abusada!” A partir de então, repete frente ao espelho, a mesma frase... até que consegue gritar a plenos pulmões: “Não mais sou uma mulher abusada!”

Nefertiti Simaika
Reeditado
Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2013 – 00h30

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